Desde que entrou em funcionamento, em 1992, o CRPG – Centro de Reabilitação Profissional já acompanhou cerca de 30 mil pessoas, sendo que 68% foram cidadãos com incapacidades adquiridas. Desde a sua fundação, que o modelo de intervenção é baseado numa abordagem holística e integrada das pessoas e das suas necessidades.

No âmbito da sessão dedicada ao tema “Reabilitação profissional de pessoas com incapacidades adquiridas em idade ativa”, realizada ontem no Centro Cultural de Belém, Mónica Salazar, Diretora do CRPG, lembrou que é necessário considerar a pessoa em todas as suas dimensões, garantindo que a recuperação abranja todas as fases da sua vida, nomeadamente o período da vida ativa e profissional.

Foi com esse objetivo que foram inauguradas duas novas delegações do CRPG em Coimbra e Lisboa, continuando a apoiar pessoas com incapacidades adquiridas, garantindo-lhes um acompanhamento mais próximo e especializado, em colaboração estreita com entidades locais e regionais.

“Através de uma abordagem integral e integrada, que alia os cuidados de saúde aos serviços de reabilitação profissional, pretendemos facilitar o retorno ao trabalho e promover a inclusão social e profissional”, realça.

Mónica Salazar defende que a reabilitação profissional no acesso ao trabalho faz todo o sentido. “Reabilitação na perspetiva dos direitos, que têm que ser acautelados. A igualdade e a inclusão. Todos têm direito ao regresso à vida e a um projeto”, considerando que os centros de emprego “têm um papel fundamental” para que a pessoas recebam o apoio necessário para a reabilitação profissional.

“A inclusão laboral é um dever social, mas também é um investimento na diversidade e no talento humano”, destaca.

Para Alberto Costa, Presidente do Conselho de Administração do CRPG, é importante dar visibilidade a um tema tantas vezes esquecido na nossa sociedade. Depois de uma doença ou acidente, a alta clínica é importante, mas a reabilitação não se esgota aí, sublinhando que “as pessoas necessitam de reaprender, readquirir competência e propósitos para a vida”.

Segundo Castro Caldas, Neurologista e Professor Catedrático Jubilado, as lesões no cérebro são difíceis de gerir, pois o mundo é o mesmo, mas é compreendido como diferente das memórias prévias.Quando aparecem as lesões, estas vão dar origem a alterações de várias áreas, nomeadamente ao nível dos sentidos.

Para que a reabilitação possa ter resultados efetivos, é necessária uma reabilitação contínua. Nesse sentido, considera que são necessárias estruturas de apoio multidisciplinares.

Uma das causas dessas lesões são os Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), dos quais cerca de 20 mil pessoas sobrevivem anualmente.

Renato Nunes, Diretor do Serviço de Medicina Física e de Reabilitação do Hospital da Prelada e Presidente da Sociedade Portuguesa de Medicina Física e Reabilitação, refere que uma grande parte dessas pessoas fica com sequelas, o que leva a que necessitem de tratamento e reabilitação.

“Tudo isto tem custos, mas podiam ser diminuídos se as pessoas tivessem acesso a uma cadeia de cuidados integrados, para uma reabilitação integral, abrangente e continuada. O regresso ao trabalho é fundamental. Este é um fator importante para o sucesso de reabilitação”, afirma.

Renato Nunes defende ainda que se poderia referenciar muitos mais doentes para os centros de reabilitação profissional, sendo que estes têm que ser acessíveis a todas as pessoas que deles precisem.

Domingos Lopes, Presidente do Conselho Diretivo do IEFP – Instituto do Emprego e Formação Profissional, realçou a importância da reativação e reintegração profissional de pessoas que enfrentam desafios decorrentes de incapacidades adquiridas, reforçando a necessidade de um suporte para um retorno ao trabalho bem-sucedido e sustentável. Tal importância foi igualmente sublinhada por Paulo Margalho, Diretor do Serviço de Lesionados Medulares do Centro de Medicina de Reabilitação Rovisco Pais, e Luiz Godinho Lopes, Vogal da Direção da Associação Novamente.

A encerrar a sessão, Adriano Moreira, Secretário de Estado do Trabalho, realçou que o governo está a tomar medidas para assegurar que todos os trabalhadores, inclusive os que têm alguma incapacidade tenham as mesmas oportunidades profissionais.