●       Diabetes e hipertensão continuam a ser as principais responsáveis pelos novos casos de doença renal crónica;

●       Dados confirmam aumento face a 2023, do número de transplantes e de pessoas a fazer diálise domiciliária.

Em 2023, oito em cada 10 novos doentes que atingiram o estádio V da doença renal crónica começaram a fazer hemodiálise (80,2%) e, destes, 90% receberam cuidados em unidades de diálise do setor privado. Apenas um número reduzido – um em cada dez – realizou a modalidade de diálise no domicílio, mostram os dados agora divulgados no Atlas da Doença Renal Crónica, uma publicação que procura descodificar, para o cidadão, os dados do Registo Nacional, uma iniciativa da Sociedade Portuguesa de Nefrologia.

Desde 1984 que se tem procurado traçar o cenário da doença em Portugal através do envio de inquéritos anuais para os centros de hemodiálise, unidades de diálise peritoneal e centros de transplante. Em 2023, à semelhança do que tem acontecido nos outros anos, foram recebidas respostas de todas as unidades nacionais: 139 centros de hemodiálise, 26 unidades de diálise peritoneal, oito centros de transplante renal para adultos e um centro pediátrico.

Uma fonte de dados importante, que confirma que a diabetes (31,3%) e a hipertensão (11,2%) são os principais responsáveis pelos novos casos, enquanto as doenças cardiovasculares (27,9%) e as infeções (26,5%) tornaram-se os principais motivos de mortalidade entre os doentes em hemodiálise, seguidos das neoplasias (10,2%), sobretudo nas pessoas com mais de 65 anos (83,7%).

O relatório atesta ainda uma tendência emergente: cresce a sensibilização dos médicos e doentes para o tratamento conservador, fazendo com que mais doentes optem por esta via (8,4% em 2023). No entanto, os números existentes ainda subvalorizam o registo deste grupo de doentes, devido a problemas de definição do âmbito desta designação. 

Os resultados mostram também que mais de 28% dos doentes que entraram em diálise em 2023, ou seja, mais de um em cada quatro, têm acima dos 80 anos e que apenas 1,2% conseguem realizar um transplante, em geral com um dador vivo, sem passar pela diálise (conhecido como ‘preemptive transplantation’). De referir que a idade média dos doentes hemodialisados subiu para os 68,5 anos, com 13% a chegarem à hemodiálise.

Quanto à diálise domiciliária, assistiu-se a um crescimento sustentado da diálise peritoneal, realizada em casa pelos doentes ou cuidadores preparados para o efeito: em 2023, mais 9,3% iniciaram este tipo de diálise, tendo a média de idades diminuído para 56,1 anos e a mortalidade caído 5,3%.

Em relação aos transplantes, os dados confirmam que em Portugal, desde 1980, foram já efetuados 15.556 transplantes renais, um número que tem vindo sempre a aumentar (547 em 2023, mais 10% face ao ano anterior). A taxa de dador de cadáver continua também elevada (cerca de 89%), com um número crescente (11%) de doentes a receberem o órgão de um dador vivo.

Recorde-se que a doença renal crónica afeta cerca de um milhão de pessoas em Portugal, ainda que grande parte da população tenha pouco conhecimento sobre esta doença silenciosa, que pode progredir sem sintomas evidentes até as suas fases mais avançadas.