• Pouco mais de metade dos médicos que prescrevem inaladores conhece a pegada ambiental dos mesmos.
  • A pegada carbónica dos inaladores pressurizados (pMDI) está estimada em 30.236 toneladas de dióxido de carbono, o equivalente a cerca de 0,84% das emissões totais do setor da saúde em Portugal.
  • Seria necessário plantar, anualmente, mais de 1,3 milhões de árvores – o equivalente a todo o Parque Florestal de Monsanto – para capturar estes gases da atmosfera.

Se, até recentemente, este não era um tema muito estudado ou debatido, os últimos anos mudaram o cenário, ao confirmar que os sistemas de saúde têm um impacto ambiental de 4,4% nas emissões de gases com efeito de estufa (GEE), contribuindo para agravar a crise climática. Em Portugal, o número é ainda superior: 4,8% das GEE são geradas pelo setor da saúde. Aqui, os inaladores pressurizados (pMDI), dispositivos médicos utilizados para a administração de medicamentos nos pulmões das pessoas com Asma e Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (DPOC), têm um impacto importante que não é, no entanto, reconhecido por quem os prescreve. Um inquérito promovido pelo Conselho Português para a Saúde e Ambiente (CPSA), junto de 348 médicos, confirmou isso mesmo: apenas cerca de metade (52,3%) afirmaram ter conhecimento sobre a pegada ambiental dos inaladores.

Não só são muitos os que desconhecem esta realidade, mas entre os profissionais das áreas de Pneumologia, Alergologia, Medicina Geral e Familiar e Medicina Interna, auscultados neste estudo, há 15% que identificam de forma errada os inaladores de pó seco (DPI) como sendo os mais poluentes, quando esta é uma caraterística dos pressurizados. Além disso, a larga maioria (mais de 70%) dizem não considerar aspectos ambientais ao prescrever inaladores, não obstante isso estar preconizado nas guidelines internacionais de tratamento para as doenças respiratórias. 

É urgente um maior envolvimento dos profissionais de saúde no combate às alterações climáticas e à degradação ambiental, como uma responsabilidade ética e profissional, na medida em que os fatores ambientais já são responsáveis por uma em cada quatro mortes a nível global. As pessoas com doença respiratória estão, precisamente, entre as que mais sofrem com a crise climática e a poluição ambiental, por isso é crítico que os profissionais de saúde tenham em consideração o perfil ecológico das tecnologias de saúde que prescrevem, sob pena de estarem a contribuir para o agravamento da condição clínica dos seus doentes, com o dano causado ao planeta e à natureza”, defende o Dr. Luís Campos, Presidente do CPSA.

Os resultados do inquérito revelam, ainda, que Medicina Geral e Familiar é a especialidade que afirma ter menor conhecimento sobre a pegada ecológica dos inaladores – apenas cerca de 40% dos inquiridos a conhece –, enquanto Pneumologia se destaca como a especialidade com médicos mais informados sobre esta realidade (+60%). Os mais jovens referem ter menos informação sobre este tema (pouco mais de 40% afirma ter conhecimento), face aos profissionais com idades entre os 50 e 65 anos (mais de 60% sabem sobre este assunto). Na hora de prescrever, Pneumologia e Alergologia estão equiparadas nas preocupações ambientais (cerca de 35%), enquanto Medicina Interna é a especialidade que revela menor atenção (~22%).

Recorde-se que, de acordo com o Documento de Consenso “Recomendações para a redução do impacto ambiental dos inaladores em Portugal”, publicado em setembro na revista científica Acta Médica, os inaladores pressurizados representam 95% da pegada de carbono total da terapêutica inalatória em Portugal, enquanto os inaladores de pó seco, somente 5%. O impacto ambiental dos inaladores pressurizados é, no nosso país, superior a 30 mil toneladas de CO2, o que significa que seria necessário plantar, todos os anos, mais de 1,3 milhões de árvores para capturar estes gases da atmosfera. O impacto carbónico dos dispositivos pressurizados, em Portugal, equivale a 150 viagens transatlânticas entre Londres e Nova York ou 2.445 voltas à terra num carro a diesel.

Face a estes resultados, os especialistas elaboraram um conjunto de recomendações: a prescrição de inaladores de pó seco em vez de pressurizados sempre que possível; a introdução nas plataformas de prescrição de um mecanismo de alerta sobre a pegada ecológica específica de cada inalador; a implementação de estratégias para incentivar a devolução dos dispositivos usados nas farmácias, entre outras.

Conselho Português para a Saúde e Ambiente

O CPSA é uma ONG criada em 2022 e é a mais transversal das alianças do sector da saúde em Portugal. Reúne 91 organizações, entre as quais se encontram ordens profissionais, faculdades de medicina e outras escolas de saúde, sociedades médicas, instituições de investigação, associações empresariais, grupos privados de saúde, laboratórios farmacêuticos, hospitais públicos, associações de doentes, associações de estudantes, municípios e organismos do Estado. Web: www.cpsa.pt