Num momento em que o sistema de saúde português revela desafios profundos — agravadas pela falta de recursos humanos, degradação da resposta pública e desmotivação crescente das equipas —, a nova geração de profissionais de saúde lança um alerta: sem uma “mudança de pensamento e compromisso”, o SNS não conseguirá manter quem cuida.

Foi com as preocupações para o setor como pano de fundo que a Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde e o Conselho Nacional de Juventude promoveram, esta terça-feira, o Debate da Saúde, na sede da Associação Nacional das Farmácias, desafiando os partidos com assento parlamentar a posicionarem-se sobre as os dados apresentados no mês de abril, na sua Convenção Nacional, que indicava, entre outros dados, que apenas 10% dos profissionais sente que tem as condições necessárias para exercer no país.

Ao longo do debate com os representantes dos partidos, as intervenções centraram-se em três grandes eixos de preocupação: a valorização concreta das condições de trabalho e das carreiras, a modernização da organização do trabalho no SNS e a necessidade de uma resposta pública mais integrada e preventiva, que inclua todas as profissões da saúde.

Entre as propostas debatidas estiveram medidas como: a revisão do modelo de horários e turnos, com maior previsibilidade e flexibilidade; a promoção do bem-estar psicológico e da saúde mental dos profissionais; a aposta na formação contínua com responsabilidade institucional; e a valorização das equipas interprofissionais, como forma de resposta coordenada aos desafios do sistema. Discutiu-se ainda a importância de garantir estabilidade contratual, melhores remunerações e incentivos à fixação em zonas carenciadas, bem como o equilíbrio entre o papel do setor público, privado e social, sem desvirtuar a missão central do SNS.

A necessidade de uma mudança de paradigma ficou patente: um sistema excessivamente centrado na doença aguda e na urgência hospitalar continua a negligenciar a prevenção, a saúde comunitária e o acompanhamento de proximidade — áreas onde muitas das profissões jovens são estratégicas e subaproveitadas.

Segundo Xavier Teles Canavilhas, representante da Plataforma de Jovens Profissionais de Saúde, “este debate demonstra que, apesar das divergências entre os partidos, existem áreas onde é possível construir um diálogo sério entre a política e os jovens que estão no terreno, todos os dias, a exercer nas mais diversas profissões da saúde”.

Acrescentou ainda que “os dados que foram apresentados são claros: se continuarmos presos a pequenos ajustes, em vez de adotarmos uma verdadeira mudança de pensamento na forma como organizamos o sistema de saúde, muitos dos jovens profissionais sentir-se-ão forçados a abandonar o país”.

Segundo Leonor Quelhas Pinto, Vogal do Conselho Nacional de Juventude, “estas iniciativas demonstram que os jovens são atores ativos da sociedade e que querem participar na vida democrática do país”.

E deixou um apelo claro: “fazemos este tipo de debates para esclarecer os jovens e promover a participação. Que as eleições de 18 de maio mostrem que os jovens estão comprometidos com a democracia e exercem o seu direito de voto”.