A ANTEM solicita reformas estruturais, começando pela criação de um verdadeiro Serviço Médico de Emergência (SME).
A ANTEM – Associação Nacional dos Técnicos de Emergência Médica, considera inaceitável o atual estado em que se encontra o “Sistema Integrado de Emergência Médica” (SIEM), que continua a falhar na sua missão fundamental de garantir uma resposta eficaz, atempada e clinicamente segura aos pedidos de ajuda dos portugueses.
A reportagem divulgada recentemente pela CNN Portugal (“Falta de ambulâncias operacionais adia resposta a dezenas de ocorrências”, 2 de julho de 2025) expõe, com clareza perturbadora, aquilo que há muito vem sendo denunciado: dezenas de ocorrências em espera, zonas do país com números extremamente reduzidos de meios disponíveis, meios parados por falta de operacionais e um sistema inexistente, incapaz de proteger os cidadãos nos seus piores momentos.
Esta situação reflete diretamente opções e estratégias erradas que muito embora estejam identificadas há vários anos, tardam em ser mitigadas, entre elas, a ausência de investimento sério na educação no âmbito do Pré-Hospitalar e a manutenção de modelos antiquados de triagem, despacho e acompanhamento de meios nos CODU. Perante este cenário, a ANTEM defende que a resposta eficaz passa por reformas estruturais inadiáveis, nomeadamente:

  1. Capacitação clínica dos provedores de cuidados médicos de emergência: É urgente dotar os operacionais de educação especializada em Medicina Pré-Hospitalar, com base científica e orientada para a técnica e atuação clínica no terreno, segundo protocolos específicos e constantemente auditados, por forma a garantir a sua eficácia. Sem este investimento, continuará a existir um desfasamento grave entre as exigências do contexto Pré-Hospitalar e as competências dos profissionais que operam no terreno.
  2. Reforma dos sistemas de triagem, despacho e acompanhamento dos meios: Portugal continua a recorrer a metodologias obsoletas para a triagem das chamadas nos Centros de Orientação de Doentes Urgentes (CODU). É imperativo abandonar este sistema e adotar soluções cientificamente validadas e com provas dadas internacionalmente. A ANTEM reitera a necessidade de implementar o MPDS – Medical Priority Dispatch System, desenvolvido pela IAED – International Academies of Emergency Dispatch, utilizado em mais de 50 países com elevados padrões de qualidade clínica e operacional e que já se encontra traduzido para português.

O atual modelo é comparável a um “desfibrilhador sem bateria”, colocando vidas em risco de forma contínua. Persistir no erro é pactuar com um sistema que falha sistematicamente na sua missão.
A ANTEM apela ao Ministério da Saúde e ao Governo de Portugal que atuem com urgência, responsabilidade e visão estratégica, rompendo com o imobilismo que tem comprometido o futuro dos Serviços Médicos de Emergência (SME). A vida dos portugueses não pode continuar refém da falta de coragem para fazer o que é certo e amplamente comprovado pela academia, constituída por centenas de peritos e especialistas em EMS/SME.
Tempos de Resposta:
A academia reconhece o seguinte tempo de resposta:
 7 minutos em perímetro urbano:
7 minutos desde que se levanta o telefone da linha de emergência médica até que o provedor chega ao local. Este provedor deve ter as habilidades necessárias para intervir na situação em concreto. Por isso, defendemos o aumento do conhecimento, incluindo das suas habilidades clínicas. Não pode uma ambulância ficar à espera de uma VMER por tempo indeterminado.
 14 minutos em perímetro rural:
14 minutos desde que se levanta o telefone da linha de emergência médica até que o provedor chega ao local. Este provedor deve ter as habilidades necessárias para intervir na situação em concreto. Como já mencionado, defendemos o aumento das competências clínicas para que a ambulância não tenha de esperar indefinidamente por uma VMER.
Existe ainda a capacidade, de através da adoção do sistema de triagem clínica de emergência MPDS, priorizar os níveis e os tempos de resposta adequados a cada um desses níveis. Estes em conjunto com a adoção de critérios como os utilizados no Reino Unido, o Ambulance Response Programme (ARP) que introduziu uma classificação mais precisa e eficaz das chamadas de emergência, permitindo uma melhor alocação dos recursos e garantindo que os casos mais urgentes recebam ajuda o mais rapidamente possível. O sistema organiza os pedidos de ajuda em quatro categorias, cada uma com objetivos específicos de tempos de resposta:

Categoria 1 – Situações de Risco Imediato de Vida
Descrição: Paragem cardiorrespiratória, ausência de consciência ou respiração, entre outros cenários críticos.
Objetivo de resposta:
Tempo médio: até 7 minutos.
Tempo máximo (90%): até 15 minutos.
Categoria 2 – Emergências Urgentes
Descrição: Suspeitas de AVC, dor torácica com suspeita de enfarte, convulsões, entre outras.
Objetivo de resposta:
Tempo médio: até 18 minutos.
Tempo máximo (90%): até 40 minutos.
Categoria 3 – Urgências que requerem avaliação hospitalar
Descrição: Situações que, embora não sejam críticas, exigem transporte e avaliação hospitalar, como dores abdominais graves ou quedas com lesões.
Objetivo de resposta:
Tempo máximo (90%): até 120 minutos.
Categoria 4 – Casos não urgentes
Descrição: Situações menos graves, que podem requerer aconselhamento médico ou transporte planeado sem carácter urgente.
Objetivo de resposta:
Tempo máximo (90%): até 180 minutos.

Este modelo visa garantir respostas mais rápidas para quem mais precisa, enquanto racionaliza o uso dos recursos disponíveis, aumentando a eficiência global dos Serviços Médicos de Emergência.
Pacientes que não necessitam de ser transportados ao hospital:
Em algumas realidades, há pacientes que não são transportados ao hospital, pois a sua condição clínica, após avaliação e observação, permite que não sejam transportadas, e se for o caso recorram a outro tipo de estabelecimento de saúde, que não seja um serviço de urgência hospitalar. Contudo, ao abordar esta questão, é necessário haver clarividência e transparência. Em Portugal, apenas o médico da VMER tem a capacidade de tomar essa decisão. Sendo que Portugal só detém 44.
Importa, educar e treinar as equipas das ambulâncias de norte a sul do país com conhecimentos e habilidades, para que possa junto do médico do CODU confirmar a sua decisão de não transporte, ou o apoio na prestação de cuidados médicos de emergência (on-line) sempre que se afigurar necessário (entre muitas outras diligências que fazem toda a diferenças e salvam realmente vidas).
Nos países onde esta decisão é tomada, existem Técnicos de Emergência Médica (nos seus diversos níveis) e Paramédicos (nos seus diversos níveis). Em Portugal, não existem estes níveis de provedores de cuidados médicos de emergência, o que é lamentável, pois a sua inexistência torna o sistema incompleto e com resultados insatisfatórios. Provedores que a ANTEM tem proposto a criação, sem que ainda tenham sido tomadas diligências para o efeito pelo Governo e pela Assembleia da República.