● Dados demonstram que prevalência do carcinoma hepatocelular, o tipo mais comum de cancro do fígado, vai aumentar;
● Estudo nacional dá ainda conta de 6.600 mortes no período de análise;
● Este tipo de cancro vai ser responsável por mais de 20 mil anos de vida perdidos por ano na população portuguesa.
Quando se fala de cancro do fígado, é grande a probabilidade deste ser um carcinoma hepatocelular, que tem origem nas principais células que constituem este órgão, representando cerca de 90% dos casos de cancro primário do fígado em adultos. E é este o foco de um estudo, realizado em 2022 e publicado recentemente, que visou estimar a carga de doença e o custo deste tipo de cancro em Portugal, entre 2023 e 2027. Confirma-se uma tendência para o aumento da sua prevalência, com custos elevados: mais de 20.000 anos de vida perdidos por ano na população portuguesa e 1.200 mortes anuais, o que exigirá, segundo os autores, “intervenções de saúde abrangentes e eficazes”.
A prevalência anual do carcinoma hepatocelular vai aumentar, como refere o estudo, realizado numa parceria entre a Associação Portuguesa para o Estudo do Fígado, a Sociedade Portuguesa de Gastrenterologia e a Exigo Consultores, com o apoio da Roche, passando de 4.151 pessoas com a doença em 2023 para 4.851 em 2027, o que se traduzirá em 120.314 anos de vida perdidos por mortalidade prematura na população portuguesa ( 20 mil anos de vida perdidos por ano na população portuguesa) e mais de 1.200 mortes estimadas por ano (cerca de 6.600 no período de análise).
Em termos de impacto económico, aquele que é, até ao momento, o estudo mais completo sobre carcinoma hepatocelular em Portugal, mostra que os custos atribuídos a este tipo de tumor devem também aumentar, passando de cerca de 70 milhões de euros em 2023 para 77 milhões em 2027, o que totaliza cerca de 370 milhões de euros no período de cinco anos avaliado. Deste valor, quase metade (44,3%) está relacionado com o tratamento sistémico, a que se juntam 29,0% associados ao transplante hepático. É importante notar que estas projeções estarão desatualizadas devido à introdução de novas opções terapêuticas desde 2022, o que resultará em custos ainda mais elevados.
Tendo em conta que 51,2% dos doentes são diagnosticados em estágios avançados, com apenas 29,5% identificados nas fases mais precoces da doença, o que dificulta o tratamento e reduz a sobrevida, além de um impacto maior sobre os sistemas de saúde, os especialistas reforçam a necessidade de prevenção, rastreio e diagnóstico precoce para evitar a concretização deste cenário, através de uma redução da carga associada à doença.
“Embora as conclusões deste estudo se baseiem em cenários hipotéticos, têm um valor significativo para os decisores políticos”, garantem os especialistas envolvidos, uma vez que permite que elaborem “estratégias mais eficazes, garantindo que os recursos são direcionados para onde são mais necessários. Isto poderia levar a uma gestão mais eficiente do carcinoma hepatocelular e, em última análise, a melhores resultados de saúde para os doentes”.
Sabe-se que a prevalência do carcinoma hepatocelular é maior nas regiões onde doenças crónicas do fígado, como a hepatite B e C, são mais comuns. Mas sabe-se também que fatores como o consumo excessivo de álcool, a obesidade, diabetes e a esteatose hepática não-alcoólica, também conhecida como fígado gordo, contribuem significativamente para o aumento do risco.
Neste mês de outubro, que é o Mês da Consciencialização para o Cancro do Fígado, os especialistas defende que é importante identificar a doença hepática avançada, mas também tratar a doença hepática e rastrear o carcinoma hepatocelular, para que o diagnóstico possa ser cada vez mais precoce.