- Mais de seis mil proteínas do endométrio de mulheres com endometriose foram analisadas. Destas, 363 apresentaram alterações significativas, 35 eram essenciais para uma gravidez saudável, como o metabolismo da glicose, produção de energia e tolerância imunitária.
- Esta descoberta abre o caminho a tratamentos personalizados e ao diagnóstico precoce para uma condição frequentemente associada à infertilidade e a maior risco de pré-eclâmpsia e aborto.
Um grupo de investigadores de Valência, Espanha, descobriu alterações em várias proteínas do útero de mulheres com endometriose que podem ajudar a explicar as dificuldades acrescidas na conceção e as complicações durante a gravidez. O estudo, apresentado no 81.º Congresso da Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva (ASRM), que terminou ontem no Texas, abre caminho a novas estratégias de diagnóstico precoce e a tratamentos personalizados.
A endometriose afeta cerca de 10% das mulheres e está associada não só a dor e infertilidade, mas também a um maior risco de hipertensão durante a gravidez e aborto.
Para compreender melhor qual a origem destas complicações, o grupo de investigação dedicado ao tratamento e diagnóstico de doenças uterinas, que reúne especialistas do Instituto de Investigação em Saúde do Hospital La Fé (IIS La Fe) – um organismo que integra várias instituições universitárias e científicas de Valência, entre elas a Fundação IVI – analisou mais de seis mil proteínas do tecido endometrial. A análise permitiu identificar 363 proteínas com alterações significativas, das quais 35 eram exclusivas do endométrio de mulheres com endometriose.
Estas 35 proteínas estão ligadas a funções fundamentais para a correta implantação e o desenvolvimento embrionário, como o metabolismo da glicose, produção de energia, tolerância imunitária e estrutura das células.
Como não é possível recolher tecido uterino de mulheres grávidas por razões éticas, os investigadores criaram pequenas réplicas do endométrio em laboratório, expostas a hormonas da gravidez para simular o ambiente do início da gestação.
Posteriormente, analisou-se o conteúdo proteico destas pequenas réplicas do endométrio em fase gestacional de mulheres com endometriose e comparou-se com o de mulheres saudáveis e férteis. “Graças a estes modelos tridimensionais, conseguimos observar como o endométrio de mulheres com endometriose reage de forma diferente, apresentando alterações em proteínas-chave para uma gravidez saudável”, explicou a Dra. Hortensia Ferrero, coordenadora do estudo e investigadora da Fundação IVI.
Para o Dr. Samuel Ribeiro, diretor clínico do IVI Lisboa, “compreender estas diferenças pode ser determinante para melhorar os cuidados de saúde reprodutiva”. Destaca ainda que, a longo prazo, “estas descobertas são um passo importante para permitir o desenvolvimento de terapias personalizadas e estratégias de diagnóstico precoce que promovam gravidezes mais seguras em mulheres com endometriose”.
 
								 
								