A leishmaniose canina continua a ser uma das doenças infeciosas mais graves que afetam cães na Península Ibérica e representa também um risco para a saúde pública. A leishmaniose canina, causada pelo parasita Leishmania infantum e transmitida pela picada do flebótomo, pode afetar gravemente os cães e, até, ser transmitida aos humanos. Os sintomas podem revelar-se através da perda de peso, lesões cutâneas, anemia, insuficiência renal e, se não tratada, pode mesmo levar à morte. É considerada endémica na Península Ibérica, mas o aumento das temperaturas aliado ao crescimento da população canina urbana tem elevado o risco de transmissão.
No entanto, a mais recente edição do Estudo de Conhecimento sobre a Leishmaniose 2024, promovido pela LETI Pharma revela que a perceção de risco por parte dos tutores de cães permanece baixa, tanto em Portugal como em Espanha.
Com base numa amostra de 2.010 tutores de cães, o estudo identificou padrões preocupantes de desinformação, subvalorização da doença e escassa adesão a medidas preventivas eficazes.
Principais conclusões do estudo:
- Baixo reconhecimento da leishmaniose canina como ameaça relevante: Cerca de 70% dos tutores não identificam espontaneamente a leishmaniose como uma doença infeciosa grave, mesmo em zonas de alta prevalência. Este número é praticamente idêntico ao observado em 2022, o que revela falta de evolução na consciencialização.
- Desconhecimento sobre casos próximos: O estudo mostra um baixo nível de conhecimento de casos de leishmaniose em animais do círculo próximo dos tutores, o que contribui para a ausência de perceção de risco real.
- Veterinários como fonte de informação – mas com margem de atuação: Apesar de o veterinário ser identificado como o principal canal de informação, 43% dos tutores afirmam nunca ter recebido orientações sobre como prevenir a doença. Este dado repete-se desde 2022, evidenciando a necessidade de uma atuação mais proativa na comunicação em consultório.
- Medidas de prevenção: Quando questionados de forma direta, os tutores demonstram elevada aceitação da vacinação, como uma das medidas do plano anual de prevenção da leishmaniose canina, que é preferida por 90% dos entrevistados. Além disso, o conhecimento da possibilidade de transmissão da leishmaniose ao ser humano aumenta significativamente a propensão à vacinação.
- Perceção da gravidade, mas não da proximidade: Apesar de haver consciência generalizada de que a leishmaniose é grave, os tutores não a veem como uma ameaça próxima ou provável, o que reduz a adesão a medidas preventivas.
- Consolidação do perfil do tutor: O estudo perfila o tutor como um homem jovem, com um cão de porte médio, que visita o veterinário duas vezes por ano e realiza a vacinação regular, mas não tem consciência clara das doenças infeciosas que podem afetar o seu animal de companhia.
De acordo coma LETI Pharma, “É preciso transformar o conhecimento em ação. Quando os tutores compreendem o risco para os seus animais — e para si próprios — a prevenção, com a vacinação e antiparasitários externos com ação repelente, deixa de ser opcional para se tornar essencial. Com as medidas preventivas, não estamos apenas a proteger os animais, mas também a nós próprios e a todos os que nos rodeiam”.
O estudo também aponta que a falta de informação alimenta a perceção de que a doença não está presente nos meios urbanos, o que está em contradição com os dados de prevalência em regiões como Lisboa, Algarve, Andaluzia ou Madrid.
Com base nos dados obtidos, conclui-se que é urgente desenvolver campanhas de informação contínuas dirigidas aos tutores, com especial incidência nas zonas de maior prevalência; apoio aos veterinários com ferramentas educativas e aconselhamento sobre o plano de prevenção para a leishmaniose canina, incluindo o plano de vacinação contra a leishmaniose e uma proteção adequada contra as picadas dos flebótomos; promoção do conhecimento sobre o risco zoonótico como elemento central para incentivar a prevenção.