Para a sociedade científica, apesar da evolução positiva face a 2017, o novo estudo da ERS mostra dados “preocupantes”. 

A Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde (SPLS) manifesta a sua preocupação com os resultados do mais recente estudo da Entidade Reguladora da Saúde (ERS), divulgado esta terça-feira, 01 de julho, que revela que mais de 78% da população portuguesa apresenta níveis inadequados ou problemáticos de literacia em saúde. 

Perante este cenário, a presidente da SPLS, Cristina Vaz de Almeida, sublinha a urgência de uma resposta estruturada e articulada entre os diferentes setores da sociedade portuguesa. “É fundamental que o Governo, as instituições de saúde, a academia, as escolas, os grupos comunitários e entidades públicas e privadas trabalhem de forma conjunta e estratégica para aumentar os níveis de literacia em saúde no país”. 

Segundo o estudo, 21,2% dos portugueses demonstraram ter literacia suficiente e apenas 0,3% apresenta níveis excelentes. “Este é um apelo claro à ação e ao trabalho conjunto coordenado de vários stakeholders. Não se pode apenas dizer que se faz literacia em saúde, pois este investimento tem de ser baseado em modelos científicos que devem ser seguidos e respeitados. Há modelos específicos para que a intervenção na mudança de comportamento funcione”, afirma a presidente. 

Para a SPLS, a mudança passa pela intersetorialidade: “Precisamos de vontade política efetiva e de trabalho com os decisores para intervenções que integrem não apenas a saúde, mas também o setor social, a educação e a cultura. Temos mesmo de colocar a literacia em saúde como uma prioridade nacional”. 

Os resultados, no entanto, melhoraram face a 2017: o novo relatório mostra que existem menos portugueses com níveis de literacia inadequada ou problemática. Para a SPLS, esta evolução vai também ao encontro do trabalho feito pela sociedade em projetos de capacitação, produção de conhecimento e de sensibilização nos últimos anos, mas a presidente afirma que “é necessário mais compromisso das políticas públicas”. 

Para a especialista em literacia em saúde, é igualmente essencial criar campanhas nacionais que alcancem todos os públicos, principalmente os menos instruídos, e reforçar a formação dos profissionais de saúde. “Não basta informar a população: é urgente formar também os profissionais de saúde em comunicação clara e linguagem acessível, centrada no cidadão”, acrescenta Cristina Vaz de Almeida. 

Estas mudanças devem ser acompanhadas pela consulta de entidades e de especialistas com experiências nesta área. “Tenho ouvido em todas as manifestações políticas sobre a importância da literacia em saúde. No entanto, a Sociedade Portuguesa de Literacia em Saúde não é habitualmente integrada nestas decisões políticas. Há algo incongruente, diria. Estamos disponíveis para o debate claro e orientador”, conclui.