A confiança pública nas instituições não se sustenta apenas em discursos ou em intenções. Sustenta-se, sim, na liderança efectiva, na capacidade de resposta e, sobretudo, na assunção clara de responsabilidades perante falhas sistemáticas.
Decorreram …. Meses desde a tomada de posse do atual presidente do INEM I.P., sem que tenham sido apresentadas quaisquer soluções, mantendo-se a insistência num modelo de emergência pré-hospitalar ultrapassado, sustentado maioritariamente por equipas de resposta com baixa diferenciação técnica, que intervêm em mais de 90% dos pedidos de ajuda. Tal modelo, repetidamente contestado por “especialistas” e provedores do sector, continua a ser promovido, resultando num socorro de má qualidade, em detrimento da prestação de cuidados médicos de emergência adequados.
Os acontecimentos recentes que envolvem o funcionamento do Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM, I.P.) são profundamente preocupantes. O tempo de resposta até à prestação de cuidados definitivos foi largamente ultrapassado, comprometendo gravemente a segurança e a vida dos cidadãos.
Estes não são episódios isolados. São o reflexo de disfunções estruturais persistentes num serviço que, pela sua natureza crítica, deveria ser exemplo em eficiência, rigor técnico e respeito institucional.
Perante esta realidade, e considerando a responsabilidade que o cargo exige, entendemos ser legítimo e necessário afirmar que o actual Presidente do INEM, I.P. não reúne, neste momento, as condições para continuar a exercer funções.
Tal avaliação não se prende apenas com a falta de capacidade para liderar uma instituição tão sensível, mas também com as sucessivas faltas de respeito institucionais, inadmissíveis num Estado de Direito, ainda mais gravosas quando partem de um organismo público.
A sua permanência em funções, num momento em que a confiança na resposta de emergência está profundamente abalada, prejudica a credibilidade do INEM, I.P. e compromete a segurança dos cidadãos que dele dependem.
A dignidade do cargo exige, por vezes, a lucidez de saber sair.
Portugal merece — e exige — um Serviço Médico de Emergência eficiente, humano e verdadeiramente à altura das suas responsabilidades.