O projeto «ForMAT – Forensic Methylation Analysis Toolsets», que conta com a participação do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde da Universidade do Porto (i3S), foi recentemente aprovado para financiamento no âmbito de um concurso do Horizonte Europa, no cluster CL3 – Segurança Civil para a Sociedade 2024, com um financiamento global superior a 4,6 milhões de euros. O objetivo do projeto é ultrapassar as limitações dos métodos tradicionais de análise genética e desenvolver vários kits para responder a desafios em casos criminais, identificação de vítimas de catástrofes e avaliação legal da idade em processos de asilo.
O consórcio europeu reúne 11 parceiros, incluindo o i3S, que irá receber mais de 210 mil euros, e a Universidade do Minho (UMinho), e é coordenado pela Universidade de Santiago de Compostela, em Espanha. No i3S, o projeto será liderado pelas investigadoras Catarina Xavier e Nádia Pinto, do grupo «Genética de Populações e Evolução», integrado na linha de investigação «Modelos em Biociência (MoBio)».
Este projeto, explica Catarina Xavier, resulta de um esforço conjunto entre instituições de investigação, forças policiais e institutos forenses e aposta numa abordagem inovadora que vai além das técnicas convencionais, muitas vezes insuficientes em casos complexos ou com amostras degradadas. «A nossa proposta assenta na utilização de marcadores epigenéticos baseados na metilação do ADN (DNAm) como ferramenta de análise preditiva em aplicações forenses».
Com base na premissa de que muitos casos forenses não produzem identificações através dos suspeitos habituais ou das bases de dados de ADN nacionais, adianta a investigadora do i3S, «o projeto propõe uma linha de investigação alternativa, centrada na estimativa da idade e estilo de vida, bem como na previsão do tipo de tecido presente numa mancha biológica de interesse criminal».
Esta informação, acrescenta Nádia Pinto, «permite refinar os perfis dos suspeitos, acelerar a identificação de vítimas em situações de desastre e facilitar a devolução de restos mortais às famílias. Nos pedidos de asilo, onde a comprovação da idade pode ser determinante e é frequentemente feita com recurso a radiografias, o ForMAT surge como uma alternativa menos invasiva, eliminando a necessidade de exposição à radiação ou servindo como seu complemento quando existem dúvidas».
No âmbito deste projeto serão desenvolvidos um conjunto de kits específicos de DNAm e uma aplicação bioinformática preditiva, destinados a apoiar o trabalho das autoridades forenses em diferentes contextos, nomeadamente um kit somático de DNAm para investigação criminal; um kit germinativo de DNAm, um kit de DNAm para identificação de vítimas de catástrofes e um Kit legal (maioridade) de DNAm para avaliação da idade em processos de asilo.
Estes kits, explicam as investigadoras do i3S, «tiram partido das mais recentes tecnologias de sequenciação de nova geração (NGS), incluindo sequenciação de segunda e terceira geração, permitindo uma análise de elevada precisão mesmo com ADN degradado – uma situação frequente em contexto forense». O ForMAT promete, assim, dar um passo decisivo no avanço da medicina legal e da ciência forense, com impacto direto na investigação criminal e na segurança pública.
A equipa do i3S estará envolvida em várias fases do projeto, nomeadamente no desenvolvimento de novas ferramentas de estimativa de idade com base em análises quantitativas de metilação do ADN através de tecnologias de sequenciação de nova geração (NGS), na criação de modelos estatísticos para previsão de tipo de tecido, e na conceção de ferramentas de bioinformática integradas. Por fim, o i3S também apoiará a transferência destas ferramentas para as forças de segurança, através de formação e atividades de disseminação.
Neste projeto, a equipa do i3S contará com a colaboração do Ipatimup Diagnósticos, em particular da investigadora Iva Gomes, responsável pela Unidade de Genética Forense. Integrando igualmente o projeto ForMAT como membro de equipa, a investigadora contribuirá com a sua vasta experiência no estudo e aplicação de marcadores moleculares para a identificação de tecidos em contexto forense.
Sobre o cluster “Segurança Civil para a Sociedade” do Horizonte Europa
O objetivo fundamental deste cluster é “Proteger melhor a UE e os seus cidadãos contra o crime e o terrorismo”, promovendo a melhoria das metodologias de investigação forense europeias, recolha de provas e trocas transfronteiriças de informação.
No total, foram submetidas 126 propostas para os oito tópicos abrangidos pelo concurso (com um financiamento estimado de 34,2 milhões de euros). Dentro do tópico específico do projeto ForMAT, foram submetidas 23 propostas, tendo apenas três sido financiadas, num total de nove milhões de euros (taxa de sucesso de 13 por cento). Duas dessas propostas incluem participação do i3S, através de investigadores do grupo «Genética de Populações e Evolução», linha de investigação MoBio.