Objetivo é formar os futuros profissionais de saúde numa área que, apesar de emergente e em que a Europa pretende liderar na investigação, ainda carece de recursos educativos específicos para estudantes e docentes
A CESPU – Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário é uma das cinco universidades europeias envolvidas num consórcio que recebeu 1,3 milhões de euros para capacitar estudantes e docentes do ensino superior e secundário para o tema das terapias celulares e genéticas (CGT, na sigla em inglês). Esta é uma área da saúde emergente e altamente promissora para a qual é necessário sensibilizar e capacitar os atuais e futuros profissionais e investigadores.
O consórcio Talent-CGT inclui, além da CESPU, as universidades de ciências aplicadas de Utrecht, Leiden e Avans, nos Países Baixos, e de Gdansk, na Polónia, e recebe agora este apoio do European Institute of Innovation and Technology.
Este é um reconhecimento para a relevância que as terapias celulares e genéticas estão já a assumir, existindo ainda um défice de conhecimento. “Esta é uma área identificada como prioritária, uma vez que existe a ambição de a Europa assumir a liderança mundial na terapia celular e genética”, refere Sara Ricardo, professora assistente no Instituto Universitário de Ciências da Saúde da CESPU. “O nosso objetivo será capacitar os futuros profissionais de saúde sobre estas terapias e novas técnicas”, acrescenta a Professora de Genética na mesma instituição, Filipa Sobral.
O Talent-CGT vai desenvolver um modelo inovador de “ensinar o Professor”, que capacitará os educadores para escalarem de forma sustentável o conhecimento das Terapias Celulares e Genéticas com os seus alunos. Em paralelo, será promovida a modernização da oferta académica, com a atualização científica dos cursos e o desenvolvimento de novas formações nas Instituições de Ensino Superior. Também serão apresentadas ferramentas digitais, de modo a garantir acessibilidade e equidade sobre estes conhecimentos. Estimando-se para já chegar, em Portugal, a 350 pessoas, o projeto será dirigido, numa primeira fase, a estudantes e docentes do ensino superior e depois a estudantes e professores das disciplinas de Biologia do ensino secundário.
No contexto europeu, o Talent-CGT tem como objetivo, até 2027, dar formação em CGT a mais de 1000 participantes – cerca de 900 estudantes do ensino superior, 150 professores universitários e 150 profissionais não-académicos.
No atual semestre, são já 40 os alunos a receberem esta formação, nomeadamente no curso de Ciências Farmacêuticas e Doutoramento em Ciências Biomédicas da CESPU, tendo as unidades curriculares semestrais sido reformuladas para inclusão destes temas. As restantes instituições europeias do consórcio também já incluíram conteúdos sobre Terapias Celulares e Genéticas nos seus currículos.
Em dezembro, vai realizar-se o primeiro workshop de formação para professores do ensino superior (Teach-The-Teacher). Com a duração de um dia completo, vai decorrer tanto em formato presencial na Holanda como em formato online, e que é totalmente gratuito para os participantes.
O que são as CGT?
As Terapias Celulares e Genéticas (CGTs) são uma área emergente e altamente promissora da medicina regenerativa e personalizada. Na Europa, estas abordagens estão a ganhar tração significativa, com vários avanços em ensaios clínicos, aprovações por agências regulatórias e um crescente interesse de investigação e investimento. As terapias celulares envolvem a administração de células vivas aos pacientes (por exemplo, células estaminais) com capacidade regenerativa ou imunomoduladora. As terapias genéticas envolvem a introdução, remoção ou modificação de material genético (DNA ou RNA) com o objetivo de corrigir diretamente mutações genéticas causadoras da patologia. Estas terapias são aplicáveis a inúmeras doenças que ainda não têm cura, como a Anemia Falciforme, Diabetes Tipo I e cancro.
A Europa tem vindo a afirmar-se no desenvolvimento e regulamentação destas tecnologias, com diversas terapias já aprovadas pela Agência Europeia do Medicamento (EMA), nomeadamente no tratamento de cancros hematológicos, doenças genéticas raras e distúrbios metabólicos. A introdução de ferramentas extremamente precisas de edição genética como o CRISPR-Cas9 ampliou substancialmente o potencial destas terapias, permitindo intervenções cada vez mais seguras e personalizadas.