Conferência que assinalou aniversário decorreu em Lisboa e lançou as bases para uma nova etapa na vida da Associação: a DIGNITUDE MAIS
O acesso digno ao medicamento e a importância do empreendedorismo social na resposta a diversos desafios da sociedade foram os destaques na Conferência que assinalou os dez anos da Associação Dignitude, esta terça-feira, 4 de novembro, na Associação Nacional das Farmácias, em Lisboa. O evento contou com o Alto Patrocínio do Presidente da República e reuniu representantes do setor social, da saúde e da economia social.
Ana Povo, Secretária de Estado da Saúde, marcou presença no encontro e enalteceu o papel da Dignitude na sua “missão profundamente humana de apoiar famílias mais vulneráveis” através do Programa abem:, que ajuda famílias em situação de carência económica a comprar os seus medicamentos: “O acesso à saúde não é um privilégio, é um bem comum. A Dignitude cumpre uma missão nobre, tocando milhares de vidas e reforçando a empatia social”.
A governante lembrou ainda que “28,4% da população portuguesa está em risco de pobreza ou exclusão social”, destacando a relevância de projetos que assegurem que “ninguém fica para trás”.
Já Paula Dinis, Presidente da Associação Dignitude, destacou a importância do trabalho desenvolvido pela associação através do Programa abem:, que já apoiou mais de 42 mil pessoas e permitiu a dispensa de mais de 3,3 milhões de embalagens de medicamentos.
“Ninguém deve ser forçado a escolher entre comprar medicamentos e dar de comer à sua família”, disse, sublinhando a importância da Associação Dignitude “como uma referência nacional na promoção do acesso equitativo à saúde, através da aliança entre o setor social e o setor da saúde”.
Um dos destaques da Conferência foi a apresentação da marca DIGNITUDE MAIS. Maria João Toscano, Diretora Executiva da Dignitude, explicou que este novo projeto pretende “ampliar o impacto social e assegurar a autonomia financeira da organização”, ao disponibilizar a parceiros locais uma plataforma tecnológica única, que lhes permita implementar o seu próprio projeto de empreendedorismo social no terreno.
“Esta é uma aposta estratégica: queremos que, com o tempo, este projeto contribua para a autonomia financeira da estrutura da Dignitude, reforçando a sua sustentabilidade enquanto organização”, sublinhou.
Empreendedorismo social e sustentabilidade
Duarte Fonseca, fundador da Reshape, projeto de empreendedorismo social que tem como objetivo apoiar reclusos na sua reinserção em sociedade, foi o orador principal do evento. Durante a sua intervenção, desafiou os participantes a pensar no empreendedorismo social como um motor de inovação: “Portugal tem a escala ideal para testar projetos de empreendedorismo social. Precisamos de investir mais nas organizações sociais e atrair talento para o setor”.
Na mesa-redonda, Marta Albuquerque, vice-presidente da Estrutura de Missão da Portugal Inovação Social, defendeu a importância de “medir o impacto e acompanhar os resultados dos projetos de inovação social, porque o que importa é a mudança efetiva na vida das pessoas”. Marta Albuquerque considerou, ainda, que“a principal lacuna do ecossistema é a falta de competências de gestão e de capacitação das equipas”, essencial para “garantir sustentabilidade e escalar o impacto”.
Uma ideia corroborada por João Pedro Machado, presidente da Fundação Ageas, que alertou para os desafios de sustentabilidade enfrentados pelas entidades da economia social: “A maioria dos empreendedores sociais não tem formação em gestão e enfrenta enormes desafios quando o projeto começa a crescer”, referiu. Defendeu, ainda, a necessidade de modelos de financiamento de longo prazo, permitindo às organizações planear e investir com previsibilidade: “As equipas passam metade do tempo a angariar fundos e a fazer relatórios. É preciso libertar recursos para o que realmente importa — o impacto social”.
Já Mafalda Mendes, vereadora da Câmara Municipal de Alijó, destacou que “quando um projeto social funciona deve ser incorporado como política pública”. Referiu como exemplo o DOURIIS – Centro de Empreendedorismo de Impacto, que junta os municípios de Sabrosa, Vila Real e Alijó, apoiado pelo Portugal Inovação Social, cujo objetivo é capacitar novos empreendedores e reforçar redes locais de cooperação. “Os recursos são escassos, mas quando nos unimos conseguimos respostas diferenciadoras. Nenhum problema social se resolve sozinho”, afirmou.
Pelo setor farmacêutico, Catarina Tacanho, diretora-geral das Farmácias do Grupo Correia Rosa, reforçou o papel das farmácias como agentes de saúde pública e de coesão social e considerou que a inovação social “não é apenas uma questão de financiamento — é também preciso criatividade e empatia”: “As farmácias são empresas, mas também fazem serviço público. Estes dois conceitos podem e devem coexistir”.
O comentário final da conferência ficou a cargo de Maria de Belém Roseira, ex-ministra da Saúde e uma das fundadoras da Dignitude, que sublinhou o trabalho da Associação no apoio “às famílias e à sociedade portuguesa — um projeto de inteligência e de sensibilidade que trata as pessoas com verdadeira dignidade”.
Na sessão de encerramento, Ema Paulino, presidente da Associação Nacional das Farmácias (ANF), reafirmou o compromisso do setor farmacêutico com a missão da Dignitude e com o Programa abem:.
“É com profundo orgulho que as farmácias se assumem como parceiras ativas do Programa abem: as farmácias conhecem as pessoas pelo nome, escutam-nas e cuidam delas. É assim que garantimos que ninguém fica para trás”, sublinhou.
Por seu turno, Miguel Ginestal, diretor-geral da APIFARMA – Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica, apelou ao reforço dos compromissos para que o “acesso ao medicamento seja acessível a todos, independentemente da sua condição financeira”.
Presente em todo o país, o Programa abem:, da Associação Dignitude, conta com uma rede de 199 entidades parceiras a nível local. De acordo com a última avaliação de impacto, até 2023, tinha permitido uma poupança de 29 milhões de euros ao Serviço Nacional de Saúde (SNS), através da redução de urgências e internamentos evitados graças às terapêuticas asseguradas pelo programa.
O Programa abem: Rede Solidária do Medicamento é uma iniciativa apoiada pela Portugal Inovação Social, através de Fundos da União Europeia.