● Representantes das gerações Z e Millennial estiveram reunidos numa mesa-redonda, no âmbito do projeto FutURe, da Merck, onde a doença mental é confirmada como a “doença crónica dos jovens”;
● Papel dos influenciadores na sensibilização em saúde deve ser regulado com um código de conduta;
● Recomendações serão apresentadas a diferentes decisores políticos e institucionais, no sentido de potenciar o diálogo sobre a temática e gerar mudanças concretas.
Dados Europeus do Inquérito FutURe dos últimos três anos destacam a saúde emocional como a prioridade dos jovens nos dias de hoje. Neste contexto, seis especialistas portugueses das gerações Z e Millennial reuniram-se para debater as preocupações referentes à saúde mental e ao bem-estar emocional. Nesta que é a primeira de um conjunto de mesas-redondas que pretendem dar voz aos jovens sobre temas que os preocupam. O objetivo é criar um conjunto de recomendações para Portugal e restante Europa, não só para o presente mas numa perspetiva a longo prazo para as futuras gerações, para combaterem o que dizem ser “a doença crónica dos jovens”.
Um dos temas de destaque e que foi considerado unânime como uma área que impacta a saúde emocional é o das redes sociais, nomeadamente os perigos da desinformação e da necessidade de formação dos influenciadores que, nestes espaços, vestem muitas vezes a pele de especialistas sem o serem. Clara Silva, conhecida como Clara Não, ilustradora e ativista; Inês Homem de Melo, psiquiatra, membro do grupo de reflexão “O futuro já começou” da Presidência da República; Leonor Pinto, Vogal do Conselho Nacional da Juventude com o pelouro da Saúde; Margarida Jarego, psicóloga e Coordenadora Clínica Social da Casa Qui; Margarida Santos, médica de família e influenciadora digital, e Tiago Rodrigues, farmacêutico e Vice-Presidente da Associação Portuguesa de Jovens Farmacêuticos, juntaram-se para falar também sobre a necessidade de agir a este nível.
Ultrapassar o estigma das redes sociais e aproveitá-las para combater a desinformação é um dos desejos expressos no âmbito deste projeto, com os especialistas a considerarem que resistir a este novo paradigma apenas atrasará a divulgação de conhecimentos importantes. “As redes sociais trazem-nos uma oportunidade, mas também um desafio. Há os dois lados da moeda, o negativo e o positivo. Devemos agarrar as oportunidades que as redes sociais podem trazer, porque efetivamente estão presentes e devemos usá-las como uma boa ferramenta para disseminação de informação fidedigna e baseada em evidência”, salienta Leonor Pinto.
No que diz respeito a esta formação, os jovens especialistas avançam com a sugestão de um “documento de boas práticas” a desenvolver numa possível colaboração com a Direção-Geral da Saúde.
Ação precisa-se ao nível da saúde mental
“A doença mental é a doença crónica dos jovens”, afirma a psiquiatra Inês Homem de Melo. “É o que põe uma pessoa nova em casa sem trabalhar: 50% da doença mental começa antes dos 16 anos e 75% começa antes dos 24 anos de idade”, acrescenta a médica. Uma voz à qual se juntam as dos outros especialistas, unidos na certeza, por conhecimento de causa, do impacto que os problemas de saúde mental podem ter e que todos admitiram já ter sentido.
É por isso que a dificuldade de acesso às consultas de saúde mental e a urgência de uma intervenção precoce se tornaram os principais pontos de partida para as recomendações definidas, a começar por tornar mais acessíveis os apoios.
E porque defendem que as gerações Z e Millennial estão mais atentas aos sinais da saúde mental, em si próprios e nos outros, algo que consideram que as destaca das gerações anteriores e contribui para o fosso geracional – acreditam que as gerações mais velhas carecem de literacia nesta matéria, assim como de alguma empatia e compreensão -, pedem também um reforço da formação dos profissionais de saúde nos domínios da saúde mental, da relação profissional-doente em geral, promovendo uma abordagem “doente como educador” para melhorar a compreensão mútua, nomeadamente no que respeita à abordagem da comunidade LGBTQI+.
A educação foi também um tema comum ao longo de toda a mesa-redonda, vista pelos especialistas como o pilar para normalizar a saúde emocional e o bem-estar na sociedade, pelo que propõem a criação de um programa de educação para a saúde mental e literacia emocional nas escolas.
Seguindo o exemplo, bem-sucedido, da campanha de reciclagem, que conseguiu mudar os hábitos nacionais, propõem também o desenvolvimento de uma campanha multissetorial de sensibilização e ainda de estudos de impacto económico para avaliar os custos da saúde mental e os benefícios da sua prevenção.
Para que estas recomendações não fiquem apenas no papel, as mesmas serão apresentadas a diferentes decisores, no sentido de potenciar o diálogo sobre promover mudanças efetivas.
O FutURe é um projeto ambicioso e de longo prazo, conduzido pela Merck, que procura identificar e abordar os temas de interesse para as gerações futuras, dando-lhes a oportunidade de expor as suas necessidades, opiniões e preocupações com os principais decisores e instituições, para que as suas vozes sejam ouvidas, tanto a nível nacional como europeu.