Nos próximos três anos, quatro projetos na área do cancro, da pediatria e da relação entre a tuberculose e a diabetes serão apoiados no âmbito da iniciativa “We Forward – capacitação nas ciências da saúde dos PALOP”, uma parceria entre a Fundação Gulbenkian e a Fundação “la Caixa”.
Os projetos foram selecionados por um júri internacional, de entre 20 candidaturas, em áreas de ciências da saúde consideradas fundamentais em Angola, Guiné-Bissau e Moçambique. O apoio de cerca de 100 mil euros, por projeto e durante três anos, quer contribuir para reforçar as capacidades de núcleos ou centros de investigação de instituições de ensino superior e a sua ligação a unidades de saúde, de forma a contribuir para a resolução dos desafios de saúde nestes países.
Em Angola, será apoiado o projeto da Universidade Katyavala Bwila, “Capacitação para a Investigação, Prevenção e Tratamento das Doenças Oncológicas em Albinos” que tem ainda como parceiros o Hospital Central do Lubango, o Instituto Português de Oncologia do Porto e a GONCOinitiative. Liderado pela investigadora Maria Madalena Paulo Chimpolo, o projeto surge como resposta ao elevado número de portadores de albinismo nas províncias da Huíla e Benguela – regiões marcadas por altos índices de exposição solar, vulnerabilidades sociais e uma elevada incidência de doenças oncológicas. O objetivo é criar uma infraestrutura sólida e integrada para a prevenção, diagnóstico e tratamento de doenças oncológicas em albinos, assim como avaliar biomarcadores moleculares e clínicos, caracterizar o microambiente tumoral de lesões cutâneas e criar um modelo clínico-patológico molecular que contribua para um melhor prognóstico.
O projeto “Iniciativa em Oncologia”, promovido pela Universidade Jean Piaget de Bissau, pretende criar um ecossistema de investigação, integrando ensino, pesquisa e prestação de cuidados. Liderado pelo investigador Bubacar Embaló, o projeto aposta no reforço da capacidade de resposta da Guiné-Bissau aos desafios oncológicos que atravessa, melhorando as infraestruturas e formando profissionais especializados para aumentar a taxa de diagnóstico precoce e as opções de tratamento. O país apresenta, entre outros desafios, uma baixa taxa de diagnóstico precoce no cancro e opções limitadas de tratamento, devido à carência de infraestruturas adequadas e de profissionais especializados.
Ainda na Guiné-Bissau, a Universidade Lusófona, receberá apoio para o projeto, liderado por Baltazar Cá, que pretende perceber a relação entre a tuberculose e a diabetes mellitus, uma das doenças crónicas não transmissíveis que estão a emergir como um problema crescente na África Subsaariana, coexistindo com elevadas taxas de doenças infeciosas, como a tuberculose. Este projeto propõe a realização de um estudo prospetivo em dois grupos de pacientes previamente caracterizados quanto à infeção latente por tuberculose e diabetes mellitus, com o objetivo de decifrar a relação bidirecional entre as duas condições, avaliando o impacto do diabetes no desenvolvimento e progressão da tuberculose, bem como o efeito da tuberculose no controlo glicémico.
Em Moçambique, o projeto da Faculdade de Medicina da Universidade Eduardo Mondlane pretende reforçar a capacidade dos Núcleos de Investigação de Pediatria que têm como objetivo fazer investigação de ponta na área pediátrica, sobretudo na preparação de ensaios clínicos para novos medicamentos e vacinas, em colaboração com instituições externas e financiamento do EDCTP. O projeto, liderado por José Sumbana, pretende criar condições de infraestrutura e tecnologia e fortalecer recursos humanos ao Laboratório de Microbiologia da Universidade. A formação estará focada em boas práticas clínicas e de laboratório, na gestão de ensaios clínicos e nas questões bioéticas.
A iniciativa We Forward nasceu em finais de 2024, quando a Fundação Gulbenkian e a Fundação “la Caixa” assinaram um protocolo de colaboração com o objetivo de desenvolver um programa que promovesse a capacitação na área das ciências da saúde nos PALOP, através do reforço de núcleos ou centros de investigação de instituições de ensino superior e a sua ligação a unidades de saúde nestes países. Através da Área Internacional da Fundação “la Caixa” e do Programa Parcerias com África da Fundação Calouste Gulbenkian, as duas fundações colaboram, desde 2015, em diferentes iniciativas com o objetivo de promover parcerias e reforçar o setor global da saúde nos PALOP.