Horas depois de a Organização Mundial da Saúde ter chegado finalmente a um acordo internacional sobre pandemias, investigadores alertam para que se faça mais nesta área, nomeadamente o investimento em sistemas de vigilância que permitam a deteção precoce e a revisão dos planos e estratégias nacionais, incluindo em todos uma abordagem One Health.

Tal como este acordo coloca em evidência, é necessário que se adote uma política integrada entre saúde humana, animal e ambiental. “Persistir numa abordagem fragmentada representa um risco real para a saúde pública, a segurança alimentar e a sustentabilidade ecológica. É ineficaz e perigoso”, considera Ricardo Dinis Oliveira, diretor do polo de investigação 1H-TOXRUN, da Unidade de Ciências Biomoleculares Aplicadas (UCIBIO) da Cooperativa de Ensino Superior Politécnico e Universitário.

Estas foram, aliás, as conclusões do Congresso Internacional 1H-TOXRUN, que se realizou no Porto neste mês de maio, e onde estiveram presentes 200 investigadores e profissionais de várias partes do mundo. A partir dos trabalhos apresentados e da reflexão feita durante este encontro, que reuniu especialistas de toxicologia, biomedicina, medicina, ciências do ambiente, nutrição, saúde pública, entre outras áreas, foi redigida uma carta aberta com o título “Por uma Só Saúde – Um compromisso Inadiável.

Nesta, e já a pensar na próxima legislatura, propõe-se que:

  1. Se reconheça formalmente a abordagem One Health como prioridade estratégica nacional, integrando-a nos planos de saúde pública, ambiente, agricultura e educação.
  2. Incluir a abordagem One Health nos planos estratégicos nacionais, incluindo o Plano Nacional de Saúde, Estratégia Nacional para a Biodiversidade, Plano de Ação contra a Resistência Antimicrobiana, e políticas agrícolas e climáticas.
  3. Se criem comités nacionais e regionais de coordenação One Health. Estes comités devem ter um papel ativo na definição de políticas, na resposta a emergências e na promoção de investigação transdisciplinar. Devem incluir especialistas oriundos da medicina humana e veterinária, ciências ambientais, toxicologia, microbiologia, epidemiologia, ecologia e ciências sociais.
  4. Se promovam campanhas de sensibilização e formação, dirigidas a profissionais, estudantes e ao público em geral, para aumentar a literacia sobre a nova forma de ver a Saúde.
  5. Se investa em sistemas de vigilância integrados e interoperáveis, que permitam a deteção precoce de ameaças emergentes, com partilha de dados entre setores e regiões.
  6. Se promovam alterações nos planos de estudos para incluir estratégias de One Health nas formações universitárias em Saúde como na Medicina, Enfermagem, Ciências Biomédicas, Ciências Farmacêuticas, entre outras;
  7. Se apoiem financeiramente projetos e redes colaborativas, que fomentem soluções sustentáveis e baseadas em evidência científica, com impacto real na prevenção de doenças e na promoção da saúde global.

A unidade de investigação 1H-TOXRUN, que conta com 70 investigadores, desenvolve já trabalho nesta área, com o objetivo de dotar Portugal desta capacidade de pensar a saúde de modo integrado e prevenir situações de saúde pública nestes diversos âmbitos.

É que, “a crescente frequência de emergências sanitárias globais, como a pandemia de COVID-19, surtos zoonóticos (ex. gripe aviária, vírus Nipah), a escalada da resistência antimicrobiana, que poderá causar até 10 milhões de mortes anuais até 2050, segundo a OCDE, os riscos inerentes aos fluxos migratórios, com surgimento de novas doenças infeciosas e outras não comunicáveis, e os efeitos devastadores das alterações climáticas, a perda de biodiversidade dos ecossistemas revelam uma verdade inegável: a saúde humana, animal e ambiental estão intrinsecamente interligadas”, alerta-se também neste documento.