● Dados de um estudo realizado no âmbito dos 40 anos da Associação Nacional de Centros de Diálise revelam que apenas 6,5% dos portugueses sabem que 90% da diálise é feita por unidades privadas.
Oito em cada 10 portugueses consideram que o Estado deve garantir maior apoio às entidades privadas que prestam tratamentos de hemodiálise. No entanto, ainda há desconhecimento quanto ao modelo de prestação de serviços, uma vez que apenas 6,5% dos portugueses sabem que, em 90% dos casos, a hemodiálise é feita em unidades privadas convencionadas, além do desconhecimento relativo à doença. A quase totalidade – 95% – dos inquiridos já ouviu falar em hemodiálise, mas mais de metade destes reconhece ter um baixo grau de conhecimento efetivo sobre a doença renal crónica. Estas são algumas das conclusões do estudo “A doença renal e a diálise em Portugal – a visão dos Portugueses”, levado a cabo pela Spirituc-Investigação Aplicada a convite da Associação Nacional de Centros de Diálise (ANADIAL), que este ano completa 40 anos de atividade.
“As conclusões do estudo são claras e corroboram, em parte, aquilo que temos vindo a defender. Existe a necessidade de uma revisão urgente do preço compreensivo, que não é aumentado há 17 anos, tendo em conta que prestamos um serviço de qualidade mundial, em termos de recursos humanos e de equipamentos, com custos cada vez maiores, que não têm sido acompanhados pelo acordo com o Estado. Por outro lado, continua a existir grande desconhecimento acerca da doença renal crónica e seu tratamento. Esta patologia afecta quase 10% da população adulta portuguesa, com os dados a apontarem para que, num período de dez anos, a doença renal crónica será a quinta maior causa de morte em Portugal” afirma Paulo Dinis, Presidente da ANADIAL.
Notoriedade sim, conhecimento não
Quando comparada com outras doenças crónicas, a doença renal crónica fica significativamente atrás em termos de reconhecimento público. Enquanto patologias como diabetes, hipertensão arterial, obesidade e colesterol elevado gozam de ampla notoriedade, apenas 17% dos inquiridos mencionou espontaneamente doenças associadas ao rim quando questionados sobre as doenças crónicas que conhecem.
E apesar de cerca de três quartos (75%) confirmarem conhecer ou já ter ouvido falar na doença renal crónica, este valor fica, no entanto, bastante aquém das restantes doenças crónicas, com excepção da Doença Pulmonar Obstrutiva Crónica (58,7%).
Quando se trata de avaliar o grau de informação sobre a doença, o cenário revela um desconhecimento preocupante: entre aqueles que dizem conhecer esta condição, seis em cada 10 (57%) confirmam um baixo grau de conhecimento efetivo. Uma lacuna particularmente evidente na identificação das causas da doença renal crónica, que os inquiridos tendem a associar sobretudo aos cálculos renais e a doenças do sistema urinário, enquanto as verdadeiras causas mais comuns – diabetes e hipertensão arterial – são reconhecidas por apenas 25% a 30% dos inquiridos.
Apesar do conhecimento limitado, os portugueses demonstram consciência sobre a gravidade da doença renal crónica. Uma esmagadora maioria (82%) reconhece que tem uma elevada taxa de mortalidade quando não tratada devidamente, e 74% compreendem que tem impactos muito significativos na qualidade de vida dos doentes.
Mais de dois terços consideram-na uma doença “bastante grave”, e mais de metade (55%) afirma que pode ser prevenida na maioria dos casos. Contudo, a proximidade com a doença é limitada: apenas 23% do total da amostra conhece alguém com diagnóstico.
O paradoxo da hemodiálise
No que diz respeito à hemodiálise, cerca de 95% dos inquiridos já ouviram falar neste tratamento, o que revela uma notoriedade quase universal. No entanto, esta contrasta com um profundo desconhecimento sobre a gestão dos centros de diálise: cerca de um quarto dos inquiridos (25%) pensa que estes centros são geridos exclusivamente pelo Estado através do Serviço Nacional de Saúde, quando na realidade apenas 6,5% consideram que essa gestão pertence a entidades privadas.
Ficha técnica do estudo:
No estudo foram envolvidos indivíduos residentes em território nacional, com idade igual ou superior a 18 anos. No final do estudo obtiveram-se um total de 1.510 questionários, completos e válidos. A esta amostra global corresponde uma margem de erro de 2,53% para um intervalo de confiança de 95%.