Conheça todas as fases do processo e perceba porque cada vez mais mulheres recorrem a esta técnica
A decisão de adiar a maternidade é cada vez mais frequente, motivada por razões pessoais, profissionais ou médicas. A criopreservação de ovócitos — o congelamento dos óvulos — surge como uma solução relevante para preservar a fertilidade e ampliar as possibilidades de uma gravidez futura.
A Dr.ª Maria Helena Silva, médica que apoia o blog Mais Saúde by Medicare aborda este tema e pretende explicar melhor todo esse processo. A criopreservação faz parte da Procriação Medicamente Assistida (PMA), que inclui tratamentos nos quais embriões, gâmetas ou zigotos são manipulados. Neste processo, a mulher recebe medicação hormonal para estimular o desenvolvimento simultâneo de vários folículos nos ovários. Os óvulos são recolhidos por via endo-vaginal, sob anestesia, e congelados usando uma técnica chamada vitrificação, que protege as células ao evitar a formação de cristais de gelo.
Posteriormente, estes óvulos podem ser descongelados e fertilizados para criar embriões, que são então transferidos para o útero. Embora a congelação não garanta a gravidez, aumenta significativamente as hipóteses de sucesso para quem opta por uma gravidez mais tardia.
Segundo o Conselho Nacional de Procriação Medicamente Assistida, Portugal está entre os países mais avançados nesta área, graças à qualidade técnica e ao empenho multidisciplinar dos profissionais envolvidos.
Por que recorrer à criopreservação?
- Gravidez tardia: Muitas mulheres adiam a maternidade por motivos emocionais, financeiros ou profissionais, e a vitrificação oferece-lhes a possibilidade de engravidar num momento mais conveniente para si.
- Tratamentos oncológicos: Radioterapia e quimioterapia podem comprometer a fertilidade. Guardar óvulos antes destes tratamentos preserva as opções reprodutivas futuras.
- Condições médicas: Doenças como endometriose podem reduzir a fertilidade ou aumentar riscos na gravidez, tornando a criopreservação uma alternativa segura.
- Transição de género: Pessoas designadas mulheres ao nascer e que iniciam a transição de género podem preservar a possibilidade de futura conceção.
Fatores a ter em conta
A idade é o fator-chave para o sucesso da técnica. As probabilidades de gravidez natural decrescem com o tempo:
- Menos de 30 anos: 85%
- Aos 30 anos: 75%
- Aos 35 anos: 66%
- Aos 40 ou mais: 44%
Por isso, congelar os óvulos o quanto antes aumenta as possibilidades de sucesso. Após os 40 anos, o procedimento é menos recomendado, mas cada caso deve ser avaliado individualmente.
Possíveis complicações e efeitos
Como em qualquer procedimento médico, há riscos a considerar:
- Síndrome de hiperestimulação ovárica: Inchaço e acumulação de líquido nos ovários, mais comum em tratamentos repetidos.
- Gravidez ectópica: A gravidez fora do útero é mais frequente em tratamentos assistidos.
- Gestação múltipla: Pode ocorrer devido à estimulação hormonal ou ao número de embriões transferidos.
Durante o ciclo hormonal, são comuns efeitos como mudanças de humor, dores de cabeça, ondas de calor e náuseas. Após a recolha dos ovócitos, algumas mulheres sentem cólicas ou desconforto leve. O procedimento é feito sob anestesia, evitando dor durante a recolha.
Taxas de sucesso
Um estudo do Instituto Nacional de Saúde dos EUA indica que mulheres com menos de 35 anos que congelam cerca de 30 óvulos têm 94,4% de oportunidade de obter pelo menos um embrião. Em idades mais avançadas e com menos óvulos congelados, as probabilidades caem.
Como é feita a criopreservação?
- Avaliação inicial: Ecografia para avaliar reserva ovárica e testes para doenças infeciosas.
- Estimulação hormonal: Injeções para estimular os ovários, acompanhadas por ecografias e análises sanguíneas.
- Recolha dos óvulos: Procedimento ambulatório de 15 a 20 minutos sob anestesia.
- Vitrificação: Congelação ultrarrápida que protege os óvulos para armazenamento a longo prazo.
E onde realizar, e quais os valores?
Em Portugal, a criopreservação pode ser feita em centros públicos ou privados de PMA. No setor privado, os custos variam entre 2 500 e 3 000 euros, sendo que o preço tende a ser maior para mulheres acima dos 38 anos devido à necessidade de ciclos adicionais.
Preservar a fertilidade é mais do que uma decisão médica — é um direito de cada mulher poder escolher o seu momento para ser mãe, com segurança, informação e apoio.
Revisão de Médica: Dr.ª Maria Helena Silva