Perante as temperaturas elevadas que continuam a marcar o Verão, a Sociedade Portuguesa de Cardiologia (SPC) alerta para os riscos acrescidos que pessoas com patologias associadas, nomeadamente os doentes com Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP), enfrentam. A combinação de calor, humidade e má qualidade do ar podem desencadear complicações sérias, mas a adoção de cuidados preventivos é a chave para uma gestão eficaz dos riscos.

A Hipertensão Arterial Pulmonar (HAP) é uma condição em que a pressão sanguínea nas artérias dos pulmões é anormalmente alta, forçando o lado direito do coração a um esforço contínuo que resulta em falta de ar, fadiga e menor tolerância ao esforço. Reações naturais do corpo ao calor, como a desidratação e o aumento da frequência cardíaca, funcionam como um gatilho perigoso para quem vive com esta patologia.

“Para uma pessoa com HAP, o calor intenso não é apenas um desconforto, é um verdadeiro fator de stress que pode levar à descompensação da doença, mesmo em doentes que se encontram estáveis”, explica o Rui Plácido, médico cardiologista e vogal do Grupo de Estudos de Hipertensão Pulmonar da SPC. “É fundamental que os doentes e os seus cuidadores saibam como agir e o nosso objetivo é capacitar os doentes com o conhecimento necessário para gerirem estes riscos através de medidas simples e preventivas que, aplicadas no dia a dia, podem fazer toda a diferença”, acrescenta.

Nesse sentido, a SPC partilha dez recomendações essenciais para os dias mais quentes:

  1. Hidratação inteligente: Beber água ao longo do dia. Caso exista, é importante respeitar a restrição de líquidos prescrita, confirmando com a equipa de saúde o plano para dias de calor. Álcool e bebidas muito açucaradas devem ser evitadas.
  2. Organizar o dia: Realizar atividades essenciais nas horas mais frescas (manhã ou início da noite) evita a necessidade de as fazer durante os picos de calor. Usar ventoinhas ou ar condicionado ajuda a manter a casa a uma temperatura confortável (entre 24–26 °C).
  3. Evitar as horas críticas: Entre as 11h e as 17h, devem ser priorizados locais com sombra e bem ventilados. Roupa leve e de cores claras, chapéu e óculos de sol serão aliados essenciais.
  4. Vigilância em casa: Pesar-se diariamente (de manhã, após urinar), registar sintomas, pressão arterial, frequência cardíaca e, se possível (com um oxímetro), acompanhar o oxigénio no sangue (saturação) são atitudes chave. Variações rápidas de peso (↑ ou ↓ >1–2 kg em 48 h), agravamento dos sintomas ou sintomas novos exigem atenção.
  5. Medicação sem improvisos: Nunca ajustar as doses dos medicamentos por iniciativa própria. É crucial garantir reserva suficiente, transportar os medicamentos corretamente e evitar que apanhem calor direto (por exemplo, dentro do carro ao sol). Uma lista da medicação pode ajudar a resolver eventuais imprevistos.
  6. Atenção aos Diuréticos: Em caso de toma de diuréticos (medicação para eliminar líquidos), importa ter especial cuidado nos dias de calor, pois a transpiração aumenta a perda de água e sais minerais. Sinais de alerta incluem: sede intensa, urina muito escura, cãibras ou queda da pressão arterial. Nestas situações, deve ser contactada a equipa de saúde.
  7. Oxigénio e dispositivos: Quando é utilizado oxigénio suplementar, é imperativo garantir que o equipamento é mantido longe do calor, planeando a logística e a autonomia das baterias antes de sair de casa.
  8. Qualidade do ar: Em dias de elevada poluição, poeiras ou fumo, reduzir as saídas e manter as janelas fechadas nas horas de maior calor, privilegiando ambientes filtrados/ventilados, ajuda a evitar a inalação destes.
  9. Alimentação leve: Optar por refeições mais pequenas e frequentes, ricas em fruta e vegetais e proteínas magras, mantenha as restrições de sal ou líquidos indicadas, são ações simples que ajudam a manter o equilíbrio nestes dias.
  10. Criar um plano de segurança: Ter à mão os contactos úteis (equipa de saúde, SNS 24/112) e combinar com um familiar ou vizinho um contacto diário nos dias de calor mais intenso evitam desfechos mais graves.

A par da vigia constante, é crucial que doentes e cuidadores saibam identificar os sinais que apontam para uma sobrecarga crítica do coração. Estes não são sintomas para gerir em casa; são indicativos de que o corpo atingiu um limite perigoso e exigem uma avaliação médica imediata:

  • Agravamento da falta de ar;
  • Tonturas, desmaio ou confusão mental;
  • Dor no peito persistente;
  • Inchaço súbito das pernas ou do abdómen ou alterações rápidas de peso;
  • Lábios ou dedos arroxeados, ou uma descida dos níveis habituais de oxigénio no sangue.

A Sociedade Portuguesa de Cardiologia reforça que um diagnóstico de Hipertensão Arterial Pulmonar não impede os doentes de desfrutarem do verão, praticarem desporto ou viajarem. No entanto, o planeamento, a autovigilância e a procura atempada de ajuda são fundamentais para uma abordagem estratégica e segura, permitindo viver a estação com qualidade e confiança.