O estudo IX Barómetro Saúde Oral 2024 está disponível para consulta aqui

  • Mais de 1 milhão nunca vai ou vai menos de uma vez por ano ao médico dentista.
  • 98 por cento dos inquiridos pedem acesso à Saúde Oral via SNS com comparticipação.
  • Dois terços da população sem dentição completa.
  • Bastonário: “É urgente ter um programa que promova a articulação dos setores público, privado e social, a sua complementaridade e potenciais sinergias. Os portugueses continuam à espera que o Governo apresente o Programa Nacional de Saúde Oral”.

Mais pessoas sem dinheiro para ir ao médico dentista, mais pessoas sem dentes e piores hábitos de higiene oral. Estas são as principais conclusões do 9º Barómetro da Saúde Oral 2024 realizado pela Ordem dos Médicos Dentistas. Os dados são claros: dos cerca de 1 milhão de pessoas que nunca vão ou vão menos de uma vez por ano ao médico dentista, há 300 mil (30%) que apontam a falta de dinheiro como justificação para não realizarem qualquer consulta de medicina dentária. Uma percentagem que agrava 5,6 p.p. em relação a 2023.

Embora não seja possível estabelecer uma relação direta, a verdade é que 98,2 por cento dos inquiridos considera importante e/ou muito importante o acesso à Saúde Oral através do Serviço Nacional de Saúde. A este indicador há a acrescentar que 96,3 por cento acreditam que o Governo deveria comparticipar os tratamentos dentários, tal como faz com os medicamentos.

No que diz respeito à frequência das consultas de medicina dentária, 65,4% dos inquiridos asseguram que o fazem pelo menos uma vez por ano, o que representa uma ligeira melhoria (1p.p.) face a 2023. Ainda assim, a percentagem de pessoas que nunca marcou uma consulta para check-up aumenta 3,6 p.p. para 27,4 por cento.

“Estes resultados envergonham o país e refletem a ausência de investimento na saúde oral. Os portugueses continuam à espera que o Governo apresente o Programa Nacional de Saúde Oral, que seria conhecido até ao final de 2024”, alerta o bastonário da OMD.

Miguel Pavão sustenta que “enquanto a Organização Mundial da Saúde dá passos importantes no reconhecimento do impacto da saúde oral na saúde geral e desafia os países a trabalharem para garantir o acesso universal a estes cuidados, o reforço do direito à saúde oral, em Portugal, continua estagnado”.

Aumenta número de pessoas sem dentes

Em apenas um ano, a percentagem de pessoas sem pelo menos um dente agrava 6,8 pontos, tendo passado de 58,9 em 2023 para quase dois terços (65,7 por cento) em 2024. Igualmente grave é o aumento registado na população sem seis ou mais dentes: 28 por cento, quando em 2023 era de 22,8.

Numa análise mais detalhada, é possível constatar que as mulheres são quem mais sofre com a falta de dentes. Apenas 31,7 por cento das mulheres tem dentição completa, enquanto nos homens o valor sobe para 36,8 por cento. Por oposição, quando se considera a falta de pelo menos um dente, a diferença entre géneros mantém-se: 68,3 por cento nas mulheres e 63,2 nos homens.

Dos dois terços da população em Portugal sem pelo menos um dente, 57,1 por cento não tem nada a substituir, o que representa um agravamento em relação a 2023 de 7,2 pontos percentuais. Quando o indicador em análise passa a ser a falta de seis ou mais dentes, considerado o número de referência que afeta a qualidade da mastigação e da saúde oral, também aqui as mulheres são mais castigadas: 31,4% face aos 23,4 dos homens.

“Não podemos nunca dissociar os índices de saúde oral do facto de quase 20% da população estar na pobreza. Uma população sem recursos e mecanismos de acesso a condições de saúde oral enfrenta mais desigualdades sociais, maior absentismo e mais problemas sociais e de autoestima. É urgente ter um programa prioritário para a saúde oral, que promova a complementaridade entre os setores público, privado e social. Mas também que envolva não só o ministério da Saúde, mas também o da Segurança Social e o da Juventude, pelo papel que estes podem desempenhar na prevenção da saúde em todas as fases da vida e na intervenção junto dos grupos de risco.  É fulcral investir, ter um orçamento para a saúde oral que permita executar e não apenas planear”, afirma Miguel Pavão.

Higiene oral piora

De acordo com Barómetro da Saúde Oral 2024, os hábitos de higiene da população pioraram em 2024 face a 2023: 74,4% afirmam escovar os dentes com frequência (pelo menos duas vezes por dia), uma diminuição (-4,4 p.p.) em relação aos 78,8% registados de 2023. Apesar do ligeiro aumento (0,9 p.p.) de pessoas que lava os dentes pelo menos uma vez por dia, o relatório demonstra que 6,1% dos inquiridos (+3,5p.p.) escova os dentes menos de uma vez por dia.

Outro indicador relevante do relatório de 2024 diz respeito à percentagem de pessoas que acedem às consultas de medicina dentária via Serviço Nacional de Saúde ou Cheque dentista: 2,5% (+0,5 p.p.). Os restantes 97,5% fazem-no via particular ou através de seguro.

Quanto a menores de 6 anos que nunca foram ao médico dentista, a percentagem voltou a diminuir pelo terceiro ano consecutivo. Em 2021 era 73,4%, em 2022 passou a 65,2% e, em 2023 ficou-se pelos 53,5% e, agora, em 2024 é 49,6%.