O Herpes Zoster, ou Zona, é uma infeção aguda causada pela reativação do vírus varicella zoster, o mesmo agente que provoca a varicela.[3] Na forma latente o vírus está presente na maioria dos adultos,[4] mantendo-se adormecido por anos. Porém, pode ser reativado com o avançar da idade, entre outras causas.[5] A nível global, estima-se que cerca de 30% dos adultos poderão desenvolver manifestações de herpes zoster.[6] Ainda assim, diversos estudos apontam que quase metade dos adultos acreditam que é pouco provável virem a desenvolver esta infeção, que se manifesta por lesões cutâneas que podem ser muito dolorosas.[7]

“Sem dúvida, é uma infeção que não pode ser subestimada, principalmente quando olhamos para a população acima dos 50 anos. No entanto, há ainda uma clara falta de sensibilização relativamente aos riscos que a doença representa”, alerta Francisco George, presidente da Sociedade Portuguesa de Saúde Pública e ex-Diretor Geral da Saúde.

Como tal, importa conhecer esta doença que pode tornar-se incapacitante para os doentes e desfazer os mitos a ela associados:

#Mito 1: Sou saudável, por isso, não estou em risco de desenvolver a doença

À medida que as pessoas envelhecem, o sistema imunitário vai diminuindo a sua competência, aumentando, por isso, a probabilidade de reativação do vírus varicela zoster, que se encontra “adormecido” no organismo da maioria dos adultos,[8] colocando, assim, as pessoas com 50 anos ou mais em risco de desenvolverem herpes zoster. [9]

“No entanto, a reativação do vírus varicella zoster pode acontecer a qualquer pessoa e em qualquer idade, desde que esta tenha tido varicela. Ou seja, apesar de ser potenciada por fatores como o aumento da idade, a imunossupressão e a presença de doenças crónicas, a reativação do vírus explica a génese da doença, mesmo em pessoas jovens e saudáveis, tendo um impacto significativo a nível físico, psicológico, pessoal e profissional. Nestes termos, é crucial investir na prevenção”, acrescenta o especialista em Saúde Pública.

#Mito 2: Não posso fazer nada para evitar ter Zona

Evitar exposição solar, precaver situações de stress, dormir bem e manter uma alimentação equilibrada rica em frutas e vegetais são algumas das formas de prevenir a reativação deste vírus.

A exposição solar prolongada, sobretudo sem proteção, pode provocar ou intensificar erupções cutâneas, uma vez que os raios UV são nocivos, tornando a pele mais vulnerável e suprimindo as respostas imunitárias do organismo. Já o stress é responsável por fragilizar o sistema imunitário, ao dificultar a ação das células de defesa do nosso organismo (linfócitos), no combate a infeções virais ou bacterianas.

É, igualmente, aconselhável evitar alimentos ricos em açúcar, pois aumentam os radicais livres e são responsáveis por processos inflamatórios do organismo, gerando um stress oxidativo que pode favorecer o aparecimento de doenças autoimunes, degenerativas e de zona. Perturbações do sono, incluindo dormir pouco, são fatores que contribuem para aumentar a probabilidade de surgirem manifestações de herpes zoster, uma vez que o sono ideal é de 7 a 8 horas diárias.

“Por outro lado, está demonstrado, no plano científico, que a imunização de adultos é uma importante medida para a prevenção de determinadas doenças infeciosas evitáveis pela vacinação. É o caso do herpes zoster que pode ser prevenido através da vacinação”, acrescenta Francisco George. “A adoção de estratégias globais e personalizadas, é essencial na obtenção de mais ganhos em saúde pública no âmbito do processo de envelhecimento saudável, contribuindo, assim, de forma positiva, para o bem-estar, para a prosperidade e para a economia do país”, explica.

#Mito 3: O herpes zoster não é perigoso

A maioria das pessoas que desenvolvem herpes zoster recupera totalmente passadas poucas semanas (mais raramente alguns meses). No entanto, podem ocorrer algumas complicações associadas a esta doença, sendo a mais comum a Nevralgia Pós-Herpética que se caracteriza por dor incapacitante que pode persistir, mesmo por meses ou anos, após o desaparecimento das erupções cutâneas herpéticas. É mais comum e grave em pessoas idosas, estimando-se que até cerca de 30% dos doentes com zona poderão desenvolver esta complicação que tem impacto significativo na qualidade de vida dos afetados.[10] [11]

Há outras complicações que podem ocorrer: alterações cutâneas por cicatrizes ou transtornos na pigmentação devidas à infeção secundária da erupção herpética; perda total ou parcial da visão (devido ao herpes zoster oftálmico); complicações no sistema nervoso periférico e central; problemas de audição e de equilíbrio; complicações cardiovasculares.[12]

“Esta é uma doença ainda não conhecida pelas suas implicações, apesar de poder tornar-se incapacitante para os doentes, tendo um impacto significativo a nível físico, psicológico, pessoal e profissional”, remata.

Em resumo, é importante estar atento ao aparecimento de sintomas e sinais cutâneos de herpes zoster, tipicamente unilaterais, como formigueiro ou dormência a nível dorsal, cervical ou no tronco, incluindo dor ou ardor, prurido, manchas avermelhadas e pequenas vesículas que contêm um líquido transparente. A consulta do médico é indispensável para a confirmação do diagnóstico definitivo e para a prescrição terapêutica.

[3] Harpaz R, Ortega-Sanchez IR, Seward JF; Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Prevention of herpes zoster: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep. 2008 Jun 6;57(RR-5):1-30; quiz CE2-4. PMID: 18528318.

[4] Johnson RW, et al. Herpes zoster epidemiology, management, and disease and economic burden in Europe: a multidisciplinary perspective. Ther Adv Vaccines. 2015;3(4):109-120.

[5] Mueller NH, et al. Varicella Zoster Virus Infection: Clinical Features, Molecular Pathogenesis of Disease and Latency. Neurologic Clinics. 2008;26;675-697.

[6] Harpaz R, Ortega-Sanchez IR, Seward JF; Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Prevention of herpes zoster: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep. 2008 Jun 6;57(RR-5):1-30; quiz CE2-4. PMID: 18528318.

[7] Shingles Misconceptions Map Survey (Australia, Brazil, Canada, China, Germany, India, Italy, Japan, Portugal, South Korea, United Kingdom, United States), Pollfish on behalf of GSK.

[8] Johnson RW, et al. Herpes zoster epidemiology, management, and disease and economic burden in Europe: a multidisciplinary perspective. Ther Adv Vaccines. 2015;3(4):109-120.

[9] Harpaz R, Ortega-Sanchez IR, Seward JF; Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP) Centers for Disease Control and Prevention (CDC). Prevention of herpes zoster: recommendations of the Advisory Committee on Immunization Practices (ACIP). MMWR Recomm Rep. 2008 Jun 6;57(RR-5):1-30; quiz CE2-4. PMID: 18528318.

[10] DH Green Book Ch 28a. Shingles. 2021. https://www.gov.uk/government/publications/shingles-herpes-zoster-the-green-book-chapter-28a.

[11] Gauthier A et al. Epidemiology and costs of herpes zoster and postherpetic neuralgia in the United Kingdom. Epidemiol Infect. 2009; 137 38-472

[12] NICE Clinical Knowledge Summaries. Shingles: What are the complications. 2021. https://www.nice.org.uk/cks-uk-only.