Urgência do combate ao estigma social e entre profissionais de saúde em destaque neste congresso da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal

Com o objetivo de oferecer uma perspetiva multidisciplinar sobre as doenças metabólicas, com foco na diabetes e obesidade, o 6º Congresso Nacional da Associação Protectora dos Diabéticos de Portugal (APDP) reuniu profissionais de saúde de diversas especialidades para discutir os avanços e desafios no diagnóstico, tratamento e acompanhamento destas patologias complexas. Entre as novidades do evento, que se realizou nos dias 7 e 8 de novembro, estiveram os cursos hands-on focados em obesidade.

“Este congresso reuniu um painel diverso de especialistas, incluindo nomes internacionais, com diferentes perspetivas e experiências no tratamento da diabetes. A partilha de conhecimento e a colaboração entre profissionais, impulsionadas por este evento, são cruciais para aprimorar os cuidados de saúde prestados às pessoas com diabetes e para uma melhor gestão da doença, tanto no presente, como no futuro”, afirmou José Manuel Boavida, presidente da APDP.

No primeiro dia do congresso, a sessão “Além Fronteiras” contou com contributos de especialistas internacionais relevantes. A importância da empatia e do combate ao estigma foram temas centrais nestas intervenções, realçando a importância de uma abordagem humanizada no cuidado às pessoas com doenças metabólicas.

Partha Kar, médico consultor do Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido (NHS) expôs a estratégia do Reino Unido para implementar o acesso a tecnologias inovadoras de tratamento e monitorização da diabetes tipo 1, destacando a importância da confiança na evidência clínica e da empatia no cuidado ao doente. Bryan Cleal, investigador no Steno Diabetes Center, em Copenhaga, abordou a problemática do estigma associado à diabetes e o seu impacto na saúde mental e no mercado de trabalho. Já o médico canadiano David Macklin, especialista em Obesidade, destacou a importância do reconhecimento da obesidade enquanto doença crónica, sublinhando a necessidade de um tratamento adequado e isento de culpabilização.

“É muito gratificante podermos contribuir para um evento tão frutífero no que diz respeito à partilha de experiências entre países, mas também dentro do nosso próprio país”, explica Carolina Neves, endocrinologista na APDP, rematando: “Foram abordados os mais diversos temas, como a atual realidade da farmácia comunitária e a necessidade de novas estratégias, tendo em conta os novos desafios de abastecimento, mas também a importância de criarmos cidades saudáveis, uma tarefa que deve ser de todos”. Dos diferentes temas abordados no evento confirma-se a importância do papel da farmácia comunitária face aos desafios no abastecimento de medicação.

Além de uma sessão totalmente dedicada aos fundamentos e especificidades da abordagem à diabetes tipo 1, foi ainda apresentada a participação da APDP no projeto europeu EDENT1FI, que consiste na realização de rastreios à diabetes tipo 1 em crianças e jovens entre os 3 e os 17 anos. Até ao momento, já foram realizados mais de mil testes para avaliar o risco de DT1, mas o objetivo para Portugal é rastrear 10 mil crianças.

Em discussão estiveram ainda outros temas, como a relação entre o sono e a diabetes, a epigenética das doenças metabólicas, tendo em conta o impacto transgeracional, e a doença hepática não alcoólica como comorbilidade frequente da diabetes e obesidade. Destacaram-se ainda os desafios específicos da diabetes na mulher, considerando as diferentes fases da vida reprodutiva que colocam a mulher em maior risco e dificuldade de controlo.