Pobreza e o custo de vida surgem pela primeira vez entre as principais preocupações de crianças e jovens, a par da saúde mental, discriminação e segurança digital.
No Dia Internacional da Democracia, a UNICEF Portugal apresenta os resultados da terceira edição da consulta pública bienal “Tenho Voto na Matéria”.
Os resultados de 2025 confirmam que a saúde mental continua a ser a grande preocupação para a maioria das crianças e jovens, sobretudo raparigas, mas trazem uma novidade: pela primeira vez, a pobreza e o custo de vida surgem como prioridades, muito próxima da discriminação, sinalizando uma crescente perceção do impacto das dificuldades socioeconómicas no bem-estar das famílias.
Os principais resultados abrangem três áreas temáticas:
· Participação: 67% das crianças e jovens afirmam que os adultos nunca ou raramente lhes pedem opinião em decisões que afetam a sua comunidade; 53% acreditam que, quando dão opinião, esta nunca ou raramente influencia o que é decidido. Uma em cada três crianças sente total liberdade para partilhar as suas ideias e opiniões;
· Preocupações: A saúde mental continua a ser o principal problema identificado pelas crianças e jovens, seguido pelo impacto da internet e das redes sociais, bem como pela discriminação. Pela primeira vez, a pobreza e o custo de vida surgem como temas prioritários. Estes problemas são mais discutidos em casa do que na escola.
São identificadas cinco melhorias para as comunidades em que se inserem: maior
cuidado com o ambiente, mais atividades culturais e desportivas, mais espaços verdes e de lazer, melhor qualidade das escolas e melhor qualidade dos serviços públicos.
A poluição, o futuro do planeta, a utilização excessiva de plástico, os desastres climáticos (como cheias e incêndios) e a falta de espaços verdes são os problemas que crianças e jovens identificam como os que os afetam mais diretamente.
· Segurança: 75% das crianças e jovens afirmam sentir-se seguros na sua comunidade, mas apenas 55% relatam sentir-se seguros no ambiente online. As raparigas continuam a demonstrar maior prudência, sobretudo no espaço digital, enquanto as crianças mais novas revelam sentimentos de insegurança acrescida quando estão online. Existe também uma perceção generalizada de que o uso de telemóveis nas escolas deve ser regulado
Beatriz Imperatori, Diretora Executiva da UNICEF Portugal, sublinha que “os resultados são claros: as crianças e os jovens em Portugal estão atentos ao contexto socioeconómico e sentem o impacto da pobreza e do custo de vida nas suas famílias e nas suas comunidades. Pela primeira vez, esta preocupação surge ao lado de temas como saúde mental, discriminação e segurança digital. É um alerta para todos nós”.
“O Dia Internacional da Democracia recorda-nos a importância de projetar a voz das crianças e jovens, especialmente num momento em que o país se prepara para eleições autárquicas. As decisões políticas têm impacto direto na vida de cada criança, mas muitas vezes as suas perspetivas ficam de fora do debate público. O Tenho Voto na Matéria é uma forma estruturada de garantir que essas vozes são escutadas. Acreditamos que esta terceira edição reforça a relevância e continuidade deste trabalho, dando ainda mais visibilidade às preocupações das novas gerações”, conclui.
Criado em 2021, “Tenho Voto na Matéria” é uma iniciativa em colaboração com o Grupo Consultivo de Crianças e Jovens da UNICEF Portugal e o Centro de Estudos e Sondagens de Opinião (CESOP) da Universidade Católica Portuguesa. O inquérito tem como objetivo colocar crianças e jovens no centro do debate público, dar visibilidade às suas preocupações, prioridades, ideias e propostas, e sensibilizar a sociedade e os decisores políticos para a importância do envolvimento ativo das novas gerações na construção de comunidades justas, seguras e sustentáveis, culminando no desenvolvimento de políticas públicas que respondam às suas necessidades.
A terceira edição desta consulta pública bienal reuniu 7 417 respostas validadas de crianças e jovens entre os 3 e os 20 anos, residentes em Portugal. As respostas foram recolhidas entre 7 de maio e 13 de junho de 2025.