Estudo publicado recentemente confirma custo-efetividade do rastreio, capaz de antecipar diagnósticos e salvar vidas
Tendo em conta o paradigma do cancro do pulmão em Portugal e os dados do estudo recente, elaborado pela Aliança para o Cancro do Pulmão, que comprovam uma favorável custo-efetividade da implementação de um rastreio à doença no nosso país, quatro membros da Aliança participaram, no passado dia 4, numa Audiência Parlamentar, que confirmou a relevância do tema e a disponibilidade de realizar mais ações nesta área.
O cancro do pulmão é o cancro que mais mata no mundo inteiro, e também em Portugal se verificam taxas de incidência e de mortalidade elevadas, associadas sobretudo ao diagnóstico tardio.1-3 A melhor forma de antecipar este diagnóstico passa pela implementação de um rastreio que, de resto, já foi implementado em praticamente todos os países da Europa, através da inclusão nos Programas Nacionais ou em projetos-piloto regionais, sendo que apenas uma pequena parte de países europeus não apresenta ainda resposta neste sentido, um dos quais Portugal.
“O cancro do pulmão não tem de ser uma sentença para os doentes. Prevenir é não fumar (ou deixar de fumar nos que fumam) e diagnosticar mais cedo. O rastreio por TAC pulmonar é muito simples de realizar, é custo-eficaz para o sistema de saúde, e é fundamental para mudar a vida dos doentes”, explica o Professor Paulo Santos, Professor na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e médico especialista em Medicina Geral e Familiar.
De momento, existe evidência científica que suporta a conclusão de que um diagnóstico numa fase precoce, através de um programa de rastreio, pode mitigar cenários de diagnósticos tardios e consequentemente reduzir o número de mortes.4,5 Evidências que se traduzem em dois estudos publicados recentemente em Portugal (colocar link para os estudos), que comprovam a sua exequibilidade e a sua custo-efetividade. De acordo com os resultados do estudo de custo efetividade, baseado no modelo aplicado no estudo NELSON6, em que participam como autores alguns membros da Aliança para o Cancro do Pulmão, a implementação de um programa de rastreio tem o potencial e para não só antecipar o diagnóstico, mas salvar vidas – mais de 13.000 pessoas no período considerado no estudo – e reduzir a carga de doença nos anos vividos.4
“É urgente implementar o rastreio para salvar vidas”, conclui a Dra. Cristina Rodrigues, médica especialista em Cirurgia Torácica e Vice-Presidente da Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardíaca, Torácica e Vascular.
A Aliança para o Cancro do Pulmão é composta pelo Grupo de Estudos para o Cancro do Pulmão, Liga Portuguesa Contra o Cancro, Ordem dos Médicos, Pulmonale, Sociedade Portuguesa de Cirurgia Cardíaca, Torácica e Vascular, Sociedade Portuguesa de Pneumologia e AstraZeneca. Organiza-se em quatro Grupos de Trabalho, dedicados a diferentes temas: Aumentar o conhecimento sobre cancro do pulmão; Implementar o rastreio em grupos de alto risco; Promover diagnóstico e intervenção precoces; Melhorar a qualidade dos cuidados e apoio aos doentes com cancro do pulmão e cuidadores.
Referências:
1. International Agency for Research on Cancer. GLOBOCAN Lung Cancer Worlwide Facts Sheet. Disponível em: https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/cancers/15-trachea-bronchus-and-lung-fact-sheet.pdf , consultado em outubro de 2024
2. International Agency for Research on Cancer. GLOBOCAN Portugal Facts Sheet. https://gco.iarc.who.int/media/globocan/factsheets/populations/620-portugal-fact-sheet.pdf
3. Zhang J, et al. Lung Cancer. 2022 Apr:166:27-39
4. Berge HT, el al. J Comp Eff Res. 2024 Sep 27:e240102. doi: https://doi.org/10.57264/cer-2024-0102
5. Fernandes MGO, et al. Pulmonology. 2024 Aug 6:S2531-0437(24)00048-5
6. Zhao YR, et al. Cancer Imaging. 2011; 11(1A): S79–S84.